terça-feira, 24 de março de 2009

Cony

hoje, 24 de março de 2009

para mim, dia de reflexão. Escolhi um texto do Cony para deixa-lo no meu blog: "O suor e a lágrima" :

Fazia calor no Rio, 40 graus e qualquer coisa, quase 41. No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. Cheguei ao Santos Dumont, o vôo estava atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio, são raros esses engraxates, só existem nos aeroportos e em poucos lugares avulsos.Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de um rei desolado de um reino desolante. O engraxate era gordo e estava com calor — o que me pareceu óbvio. Elogiou meus sapatos, cromo italiano, fabricante ilustre, os Rosseti. Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a calva. Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo instante o usava para enxugar-se — caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um brilho de espelho à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar nos restos dos meus dias.Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim, por míseros tostões, fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho humano, salgado como lágrima.

domingo, 22 de março de 2009

outono

aqui estou
sem novidades.
do outono passado,
não há nada diferente.
estranho sentimento
misterioso alento
do vento que chega à noite
anunciando a nova estação
e eu?
continua o antigo, nada renovado
estou mais velha e cansada.
ou entro na contra mão da vida
ou continuo no caminho certo da morte .
vento de outono
vem a noite e desaparece
com o dia
em cima , bem do alto, alguém sopra
que intenção terá?
leva para longe os temores?
ou trás de volta os achados
perdidos há muito tempo?
e neste baú haverá a embalagem
lilás com os dizeres: frágil ?
reconhecerei facilmente
a minha vida de volta.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Carolina

pra semana um acontecimento
os minutos viram horas
na espera do nascimento...
na meiose
mistura de pai e mãe
que cara terá essa menina?
que nada, ela vem
inteira Carolina.